1º DOMNGO DO ADVENTO

Marcos 13,33 – 37

Ficai de sobreaviso, vigiai; porque não sabeis quando será o tempo. Será como um homem que, partindo de uma viagem, deixa a sua casa e delega sua autoridade aos seus servos, indicando o trabalho de cada um, e manda ao porteiro que vigie. Vigiai, pois, visto que não sabeis quando o senhor da casa voltará, se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã, para que vindo de repente, não vos encontre dormindo. O que vos digo, digo a todos: vigiai!

Comentário

Já é hora de acordar! Eis o apelo de Jesus no Evangelho que inaugura este tempo do Advento. Uma nova aurora surge no horizonte da humanidade, trazendo a esperança de um novo tempo de um mundo renovado pela força do Evangelho. Neste tempo de graça, somos convocados a sair do torpor de uma prática religiosa inócua, a acordar do sono dos nossos projetos pessoais vazios e egoístas. Despertos e vigilantes, somos convidados a abraçar o projeto de Deus que vem ao nosso encontro, na espera fecunda do Tempo do Advento, temos a chance de reanimarmos em nós e os compromissos assumidos em favor da construção do Reino, reavivando as forças adormecidas, para a construção de uma humanidade nova, livre das trevas do sofrimento, da marginalização e da morte.

Frei Sandro Roberto da Costa, OFM - Petrópolis/RJ

2º DOMINGO DO ADVENTO

Marcos 1,1 – 8

Conforme está escrito no Profeta Isaias: Eis que envio meu anjo diante de ti: Ele preparará teu caminho. Uma voz clama no deserto: Traçai o caminho do Senhor, aplainai suas veredas (Mt 3,1); Is 40,3). João Batista apareceu no deserto e pregava um batismo de conversão para a remissão dos pecados. E saiam para ir ter com ele toda a Judéia, toda Jerusalém, confessando os seus pecados. João andava vestido de pelo de carneiro e trazia um cinto de couro em volta dos rins, e alimentava-se de gafanhotos e mel Sivestre. Ele pôs-se a proclamar: “depois de mim vem outro mais poderoso do que eu, ante o qual não sou digno de me prostrar para desatar-lhe a correia do calçado. Eu vos batizei com água; ele, porém, vos batizará no Espírito Santo”.

Comentário

“Preparai o caminho do Senhor, aplainai as suas veredas”. Clamando pelo deserto, João Batista nos indica que procurar viver conforme a Boa-Nova que Jesus nos trouxe não se trata, simplesmente, de viver dentro de um sistema religioso com certas práticas que nos identificam com tais. Talvez ele queira nos indicar que a fé, antes de tudo é um percurso, uma caminhada, onde podemos encontrar momentos fáceis e difíceis, dúvidas e interrogações, avanços e retrocessos, entusiasmo e disposição, mas também cansaço e fadiga. No entanto, o mais importante é que nunca deixemos de caminhar, pois o caminho se faz caminhando. Boa caminhada de Advento e preparação!

Frei Diego Atalino de Melo

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

7. UMA ESPIRITUALIDADE VIVA PARA OS VICENTINOS DE HOJE


















UMA ESPIRITUALIDADE VIVA PARA OS VICENTINOS DE HOJE

              
               Os tempos mudaram e com eles houve necessidade de transformação do homem moderno em não poucos setores da vida. A Sociedade de São Vicente de Paulo (SSVP) não poderia constituir exceção.

               Na Assembleia Europeia da SSVP, efetuada em Lisboa em 1976, no primeiro subtema das apresentações diz o relator: “Não só se houve, mas também se constata que a SSVP atravessa uma grave crise que, por certo, não é mais do que o reflexo da crise da própria Igreja e do mundo atual, onde os conflitos se multiplicam e, até, deparamos com o espetáculo de confrontos em que o pretexto religioso é evocado como causa e efeito”.

               E acrescenta: A SSVP é acusada, muitas vezes pelos próprios confrades e consocias, de ser rotineira e tradicionalista e, por isso, de não ser capaz de detectar alguns dos importantes problemas da miséria do nosso tempo. Muitas vezes “remedeia-se” uma situação sem a preocupação de reivindicar a justiça apropriada para os que sofrem. São muitas as formas de pobreza, indo elas desde os que sofrem nos cárceres sem ouvirem uma palavra de simpatia, aos velhos isolados que não encontra quem os compreenda e com eles dialogue: é o problema do racismo e das guerras do Líbano e da Irlanda, dos confrontos entre israelitas, palestinos e árabes, etc. e que uma atitude ecumênica de real inspiração ajuda a encontrar a solução de justiça paras as vítimas inocentes. São também de não esquecer os cancros sociais que resultam do uso e abuso da droga e do álcool, da prostituição e da sexualidade para a qual até, por vezes, se encontram argumentos em termos de libertação do corpo; é a tristeza das mulheres abandonadas e a multidão dos que não têm meios para ter uma casa onde possa desenvolver uma vida familiar condigna. São ainda os doentes sem assistência espiritual”.

               Eis aí uma série de importantíssimas questões que o relator expôs aos numerosos confrades reunidos em Lisboa, lembrando-lhes que sobre as mesmas a SSVP tem de refletir.

               Deste lado do Atlântico a situação, se não é a mesma, será talvez ainda pior. E particularmente em nosso país, dada sua enorme extensão, os problemas se apresentam mais graves, demandando soluções urgentes uns, atenção permanente outros, e, não raro, declaração de estado de emergência. É o que acontece também com a nossa SSVP, que participa da referida crise, a nosso ver, não tanto em decorrência de uma situação mundial quase caótica, como pelas distorções dos princípios que desde 1833 a nortearam.

               Pouco a pouco, tais distorções foram levando os confrades e consocias à vida rotineira. Sem perda da religião, foram se habituando a uma simples distribuição de vales aos necessitados, hoje superada.

               Nossos confrades e consocias amam os necessitados, mas não amam tanto seus próprios companheiros – os confrades de sua Conferência. Distinguem-se, assim imperceptivelmente, diversas qualidades de “próximos”: os que recebem auxílios e as atenções da Conferência Vicentina, os que se acotovelam uma vez por semana nos bancos rústicos de uma pequena sala na Igreja paroquial e conversam sobre os chamados “pobres”; os que arcam, não raro isoladamente, com as tremendas responsabilidades da direção de nossa Sociedade, etc. E, no entanto, nos Santos Evangelhos, não encontramos a palavra “próximos”, mas simplesmente o nosso “próximo”. Não há distinção para a distribuição de nosso amor. O texto é claro: “Amar ao próximo como a si mesmo...”, seja ele o necessitado, o confrade, a consocia, o presidente da Conferência, do Conselho e outros.

               Dessa distinção resulta uma atitude do confrade ou consocia que deverá ser corrigida, para podermos corrigir as distorções do apostolado vicentino. Deveremos começar em nossa casa...

              Qual o confrade ou consocia que um dia se preocupou seriamente com seu companheiro com o qual participa da reunião da Conferência? Em que momento ele perguntou ao seu irmão de apostolado da caridade: meu amigo, sei de algo que o atribula, poderei auxiliá-lo? Não está necessitando de um conselho, de uma palavra de conforto, de uma orientação? O que o aflige? Poderei minorar seu sofrimento? Será esta a causa de sua pouca frequência às reuniões da Conferência? E com os socorridos, qual o confrade ou consocia que se dispôs a cuidar, ao menos por uma semana durante o ano, dos filhos de seu socorrido, para que os pais pudessem respirar os ares do campo, usufruindo de umas pequenas férias tão desejadas e necessárias?

                A legislação trabalhista dispõe que todos os assalariados têm o direito a 30 dias de férias por ano. Que adiantarão esses 30 dias se o empregado  não possui meios para gozar essas almejadas férias? A maioria irá utilizar os 30 dias para conseguir mais recursos, para, pelo menos, pagar as dívidas. E se os confrades e consocias, numa reunião da Conferência, estudassem esses problemas e se dispusessem a auxiliar seus socorridos de tal modo a poderem ter um descanso de 30 dias?  Há mil maneiras de solucionar questão tão simples! 

              Mas a reunião da Conferência está marcada com a rotina de todas as semanas e não há tempo para discutir os problemas dos socorridos. É necessária uma alteração radical nos hábitos que temos tão arraigados. Ainda não há muito, o Conselho Geral recomendava a todos os confrades e consocias a meditação sobre o significado real da visita vicentina. Não deve ser rotineira, apenas distribuição de vales, mas tem de ser uma visita amiga, amiga no mais amplo sentido da amizade. Não vamos nós vicentinos fazer a visita a um socorrido, mas a uma família de nossa amizade à qual desejamos dispensar assistência, quase sempre para reparar as injustiças de que ela é vítima. E, assim, teremos satisfeitos os desejos de promover a família que passará a ser realmente a nossa família. Tudo faremos para que isto aconteça no mais breve espaço de tempo possível.

                 Naturalmente, esta atitude demanda uma série de providências que teremos de tomar em consonância com a opinião de nossos irmãos com os quais nos reunimos todas as semanas. Poderão ela dar, também, seu valioso auxílio para a obtenção dos recursos indispensáveis, para que consigamos nosso desiderato. É óbvio que, em uma reunião em que tais atividades sejam discutidas, não será uma reunião morna, mas quente. Cada um terá de dar seu palpite; as opiniões agitarão as reuniões, as providências serão devidamente discutidas e as soluções para os problemas propostos serão encontradas. Assim faziam os primeiros confrades. Lamentavelmente, não se manteve em muitas Conferências essa atitude. Pouco a pouco nos habituamos ao “tudo está em ordem”, “não há novidades”, “não vale a pena modificar”, “não adianta tentar uma outra solução”. Reduzimos nossos desejos, talvez, para abreviar uma reunião que então se tornará fria, enfadonha, e, porque não dizê-lo, insuportável. Para que tais atitudes se efetivem, elas não se referem apenas aos membros de uma Conferência, independente de cor, sexo, idade ou posição social.

               Naturalmente, todos os amigos de OZANAM que aderiram às primeiras Conferências Vicentinas eram jovens. E eles passaram a adultos e alcançaram, muitos, a chamada idade provecta, isto é, avançada em anos. E sobreviveram mantendo sempre aceso o fogo sagrado do ideal vicentino que é a santificação do próximo, sendo o primeiro próximo ele mesmo. Depois vêm seus companheiros e depois os socorridos. Engano pensar que a SSVP foi fundada para socorrer os pobres! Já o disse BAILLY e muitos confrades o repetiram.

          Vale aqui um reparo. Muito antes de OZANAM admitir os necessitados nas Conferências, já aliciava os jovens para trabalharem na defesa da Santa Igreja.

               A SSVP atende a todos, principalmente a jovens e adultos. É preciso atentar, porém, que somos nós, nos os vicentinos que não dispensamos nossa querida Sociedade. Puro engano, que acontece não raro com os jovens, pensarem que somos imprescindíveis. Que se não houver jovens a SSVP perecerá. Os jovens bem intencionados, naturalmente, procurarão a SSVP atendendo às suas finalidades principais. Os que não concordarem com seus regulamentos, suas regras, seriam melhor que não viessem.

               Os tempos mudaram. É certo. E acreditamos que mudaram para melhor. Conseguimos erradicar muitos erros e aperfeiçoar muitas virtudes. Haja vista o apostolado extraordinário que humildes confrades desenvolvem por este Brasil afora. Nosso Presidente Gral comoveu-se até as lágrimas quando viu aquela velhinha percorrer 80 horas de ônibus para vir assistir à reunião de Brasília por ele presidida.
        
               Devemos compreender que os tempos são outros e outros devem ser nossos hábitos. Por isso, é indispensável nossa compreensão e nossa colaboração, principalmente, mantendo viva aquela espiritualidade que transcende de uma visita a um socorrido, seja ele confrade ou um necessitado. Quando fazemos nossa visita, devemos dar-lhe um caráter especial de espiritualidade pois com ela iremos entrar em contato com o próprio Cristo.

                A unção que temos ao nos aproximarmos da mesa Eucarística, deve ser a mesma quando nos aproximamos de nosso socorrido. Quando na penumbra de uma capela, diante do Santíssimo Sacramento, fazemos na calma daquele ambiente, nossa meditação, conversamos com Deus Nosso Senhor, expomos-lhe nossos sofrimentos, nossas dúvidas, nossas angústias, mas, também, nossas esperanças, nossas alegrias, nossos desejos mais doces. Assim, quando entramos em contato com nosso socorrido, no leito de um hospital ou no porão escuro ou, ainda, num casebre humilde ou através das grades de um cárcere, vamos conversar calmamente com ele, nos daremos completamente a ele, e iremos perguntar-lhe de que necessita e o que poderemos fazer por ele, e dali sairemos certamente confortados com seu magnífico exemplo de humildade, de resignação, de paciência, de fé e de esperança.

              E assim, nesses extraordinários momentos, certamente, seremos
mais de Deus. O Cristo sofredor que visitamos a ele damos a mão e infundimos-lhe esperança e confiança no futuro que lhe parecia tão escuro.             

              Mas, nossa intenção aqui é apresentar o que tão oportunamente nos informa o  relator  deste  tema. Voltemos,  portanto,  ao  relatório  da Assembléia européia.

               “O desenvolvimento científico e técnico vertiginoso, diz, não foi acompanhado socialmente por formas de vida em que o social se desenvolve dentro dos princípios morais e de justiça adaptados às rápidas mudanças. No entanto, muita gente luta por uma sociedade mais justa e, com esse fim, multiplicam-se instituições internacionais que resolvem questões pontuais, mas não o sistema essencial. O homem luta pelo refrigerador, pela televisão, pelo automóvel e esforça-se, numa competição desenfreada por alcançar os lugares a que se julga com direito sem que a palavra fraternidade, tantas vezes dita pelos políticos, seja sentida”

               É óbvio que não poderemos desprezar todos estes elementos que existem como resultado do próprio esforço humano. O que falta vem a ser justamente essa fraternidade que se nos apresenta cada vez mais enfraquecida.  E prossegue o relator:

               “A Igreja e a SSVP que é parte da Igreja, são abaladas por todos estes acontecimentos e o Concílio Vaticano II e as Assembleias Vicentinas foram altos momentos de autoanálise em que surgiram propostas e sugestões de formas de melhor e mais atual vivência cristã. No entanto, depois destas reuniões a vida continua e, infelizmente para muitos, como antes. Ficou-se nas palavras, faltaram os atos”.

               Foi exatamente o que sentiram os jovens que se reuniram na 9ª. Jornada da Juventude Vicentina do Estado de São Paulo no Mosteiro de Cister em Claraval*, em 1977.

               Unânime a opinião de haver em todas as Jornadas, muitos discursos, muitos relatórios, muitíssimas propostas... Mas, reduzido número de fatos concretos, de realizações, enfim, escassas as promoções dos socorridos e dos próprios Confrades. Naquela Jornada pairava no ambiente uma atmosfera de expectativa.

               Vêm a propósito, com muita justeza as palavras do relator da Assembleia Europeia:

               “Apetece aqui recordar que, em 1833, FREDERICO OZANAM e os seus amigos tiveram a inspiração de se unirem para o serviço dos pobres de maneira mais humilde e discreta, no enquadramento da sua vida profissional e familiar de leigos que sentiam o dever de dar testemunho da sua fé mais por atos do que por palavras, vendo em todos os que sofriam o Cristo sofredor. Pelo seu contato pessoal com os “pobres” sentiam que a Caridade é inseparável das exigências da justiça. Por isso reivindicavam justiça para os “Pobres”. Dialogavam com os “Pobres” e, deste modo, sabiam também ser “Pobres”. E foi assim que exigiram para si um, cada vez maior, aprofundamento espiritual para um contato espiritual mais esclarecido do que é a verdadeira essência da SSVP, de pessoa a pessoa”.

               Esse contato de pessoa a pessoa nunca é demais insistir, foi o fator principal da atividade apostólica vicentina desde o início de nossa Sociedade. E bem podemos avaliar as consequência dessa atitude dos primeiros confrades. Solidarizaram-se confrades e socorridos, fortaleceu-se uma amizade que constitui marcante característica da SSVP.

               Muita expressiva a abalizada opinião do relator que assim a expõe:
               “Sem esgotar todas as nossas necessidades, julgamos poder dizer: 

        1.  É preciso renovar no respeito ao que de essencial nos vem das origens da nossa Sociedade sem cairmos na tentação de nos acomodarmos à nossa época.  Como? Sabendo ser fiéis à nossa própria vocação.

        2.   Na Sociedade em que o secularismo e pragmatismo reina, com o ritmo da vida que levamos, a vida da nossa Conferência ressente-se: faltam os membros, dá-se a maior importância a aspectos secundários, vendo-se muito no aspecto econômico a razão de sobrevivência das Conferências. Entretanto, a mensagem que nos é transmitida pela “visita” passa quase despercebida.

       3.  No entanto a SSVP surge, como dizia OZANAM, porque “sentíamos o desejo e a necessidade de  manter a nossa fé no meio das acometidas operadas pelos diferentes tipos de falsos profetas. Façamos algo que esteja de acordo com a nossa fé e apesar disso, as obras de caridade continuam a faltar. Contribuamos, como Deus nos disse, para formar uma grande família de irmãos:

  • Mantendo e esclarecendo a nossa fé na nossa Conferência, expandindo-a e compartilhando-a com as comunidades em que estamos inseridos;
  • Cumprindo escrupulosamente a nossa Regra, sobretudo, no essencial que é a visita e o comparecimento semanal à reunião da Conferência, sendo capaz de extrapolar para a nossa vida a mensagem aí recebida;
  • Tendo a originalidade de saber construir as obras de caridade  do nosso tempo.”  

               Todas essas recomendações tão salutares, se bem observadas, conduzirão, necessariamente, a um maior progresso do apostolado vicentino.

               Todavia, esse apostolado depende de intensa vida espiritual. É o que nos informa a respeito o digno relator:
               “Como praticar uma espiritualidade mais viva para o nosso tempo?”
               a)  como princípio básico de todo o cristão, em união íntima com Cristo, de acordo com o que disse o Senhor “O que permanece em Mim, como Eu nele, esse dá muito fruto, porque sem Mim, nada podeis fazer”. (João, 15,5).

               A personalidade do vicentino deve ser informada por esse valor fundamental que lhe dá sentido à vida. Deste modo nele se põe constantemente a exigência de:
·      Conhecer melhor a Cristo
·      Amá-lo melhor
·      E, como consequência, comunicá-lo com mais vida e difundi-lo à todos.

            b) Este princípio básico para  manter-se atuante deve ser alimentado de diferente formas:

                   b.1 – Pela sagrada liturgia que é o cume para que tende toda a atividade da Igreja e força de onde emana a sua força. A sua participação ativa realiza-se:

            - nos sacramentos da Penitência e da Eucaristia pelos quais somos conduzidos à Comunhão com e entre todos os nossos irmãos;

            - no Ofício Divino que é a verdadeira oração litúrgica, sobre o qual o Concílio Vaticano II recomenda “que os leigos rezem o Ofício Divino ou com os sacerdotes, ou reunidos entre si ou, inclusive, em particular”.

        A nossa reunião da Conferência desenvolve-se de forma semelhante à estrutura da oração litúrgica: oração inicial, leitura espiritual, informações sobre as visitas com os pedidos das necessidades, coleta e oração final.

               Não poderíamos revitalizar a reunião com uma oração litúrgica o que,  certamente, nos levaria a viver mais “em Igreja” e “com a Igreja”? 

         Sugere-se que isto poderia ser feito como:
         - A recitação dos Salmos (a melhor expressão da alma do povo);

         - Leitura da Palavra de Deus, o que poderia provocar um confronto da nossa vida com ela e iluminar a ação caritativa;

       - A coleta como resposta a irmão e comunhão com Cristo, com o sentido da comunicação cristã dos bens materiais e das pessoas;

       - A comunhão de pobreza, pedindo ao Senhor pelas necessidades comunitárias;

          - Oração final.

              b.2 – Pela oração de que Cristo é modelo e que é um encontro de homem que procura Deus para o salvar. A sua necessidade é constante e, por isso, a Regra vicentina muito insiste em que ela seja praticada. Não esqueçamos que o “Pai Nosso” é não só o protótipo de oração mas uma contundente fórmula sobre o significado da nossa fé. Deste modo situa-nos:
           
            - perante Deus em atitude de esperança filial (filhos);
            - perante os homens em fraternidade (irmãos);
            - perante as coisas (pão) em atitude de recebimento e pobreza (cada dia);            
            - perante a história, como construtores do reino;
            - perante o pecado, em atitude libertadora, pessoal e social                        (ofensas, tentações, mal).

               c) Todas essas recomendações para serem válidas necessitam de prática assídua que abranja a vida toda do Confrade e da Consocia. Assim, acompanhamos o relator nas suas instruções:

            “A nossa espiritualidade deve ser alimentada pela prática das virtudes teologais, que nos leva a uma vida cada vez mais íntima, com Cristo e, decerto, nos vai fazendo transcender os sentimentos humanos de filantropismo”.

                  A primeira virtude – a Fé – não implica crer em “alguém” que é Cristo nas suas dimensões vertical e horizontal de que resulta uma atitude que é simultaneamente um “modo de ser" Cristo nos irmãos. Um “modo de ser” que leva a um desejo de reconversão permanente a Cristo e um “modo de fazer” de acordo com os valores evangélicos da forma como diz PIERRE CHOUARD: “Atestar a fé por um amor pessoal aos que sofrem” pois uma vocação que não se exprime por uma promessa, por um compromisso, é uma vocação sem afeto, uma vocação perdida”.

            A segunda virtude – a Esperança – implica do vicentino, aguardar pacientemente a hora de Deus, vivendo num esforço dinâmico pessoal de ser pobre para, progressivamente, transformar o mundo, libertando-o da escravidão da riqueza, na atitude de “não julga. Está disponível”.

                   A terceira virtude – a Caridade – a virtude que, como diz São Paulo “nunca acaba”. É a virtude eterna porque é o Verbo de Deus que revela que Deus é Amor. Segundo São Paulo “as profecias desaparecerão, as línguas cessarão e a ciência findará. Porque nossa ciência é imperfeita e a nossa profecia também é imperfeita. Mas quando vier o que é perfeito, o que é imperfeito será abolido”.

                  É claro que para atingir a plenitude dessa vivência apostólica é necessário que se tenha o que o relator chama “vocação do Amor. Acompanhemo-lo neste particular: “Neste sentido a sua espiritualidade deve, segundo a Regra, contribuir para:

       - fazer da Sociedade uma verdadeira família, humana e espiritual;
       - assegurar a unidade da Igreja;
       - testemunhar a sua fé por um amor pessoal aos que sofre de forma a acreditarmos que:

                        ▪ ”vivemos com Deus” quando amamos
                        ▪ “convivemos com Deus” quando nos amamos
                        ▪ o “dom” que nos é dado, o compartilhamos.

                        d) A forma da nossa espiritualidade deve assentar em  “carismas”, isto é, em dons especiais que Deus nós dá, a nós ou à comunidade em que trabalhamos, em função de uma missão ao serviço dos outros. De fato, sendo a SSVP uma organização de leigos que vivem e desempenham cargos no mundo, toda a espiritualidade que não reflita esta realidade, é falsa.

                        Como vicentinos recomenda a Igreja que “os leigos que seguem a sua vocação, que a tenham inscrito em alguma associação, se esforcem, igualmente, em assimilar com fidelidade as características peculiares da espiritualidade própria de tais associações”.

                       e) Não há vida espiritual sem vivência de “Espírito de pobreza” a qual é uma disposição interior, que deve levar o vicentino a viver pessoal e comunitariamente naquele espírito. Vivendo o mundo, os vicentinos devem estar atentos ao testemunho de Cristo e à sua realidade inerente:

              1° - Jesus encontra a sua segurança no Pai, na oração;

            2° - A partir dessa segurança sente-se livre perante a riqueza e não se faz escravo dela (Mt. 4,8-10), não utiliza o “poder” em benefício próprio (Mt. 4,4)., não opta por um messianismo fácil  (Jo. 6,15-26). A fidelidade leva-o, inclusive, à morte (Mt. 8, 19-20).

            3° - Vive para os outros. Vive com quem serve (II Cor. 8-9).
                       
                        Em coerência, a sua vida deve refletir esta realidade nas solicitações que o rodeiam:

                1° - Perante a mistificação do dinheiro e do poder dar um sentido aos bens, em função da pessoa e da fraternidade (função profética);

              2° - Ante a ânsia do domínio sobre “o outro” optar pelo homem, procurando-lhe uma situação mais humana e mais justa (função real);

                    3° - Libertando-se, inteiramente, de forma a por tudo o que “é” ao serviço dos outros. O vicentino não “dá”, “da-se”. Por isso, também, recebe e enriquece-se. O “espírito de partilha” de que se fala no preâmbulo da Regra, tem de ver com o espírito de reciprocidade e de serviço. É oblação (função sacerdotal).
                        
               Esta exposição clara indica-nos muito bem a dimensão da espiritualidade viva, que devemos manter como vicentinos dedicados ao apostolado da caridade. A tônica desta espiritualidade é, bem o compreendemos, a vivência de uma Caridade evangélica, como recomendaram desde o início os fundadores da Sociedade de São Vicente de Paulo.  

                    Mantendo bem viva esta espiritualidade nos aproximaremos por certo daquele modelo admirável invocado pelo próprio Cristo ao relatar a parábola do Bom Samaritano. E este não era Confrade e nem cristão, mas o doutor da lei indicou-o como o verdadeiro próximo, pois era o único que havia tido misericórdia  com o pobre ferido que jazia na estrada. Sejamos pois como o bom samaritano e assim conseguiremos mais facilmente manter bem viva nossa espiritualidade vicentina!

(* Palestra proferida na Reunião Interprovincial do Conselho Metropolitano de São Paulo em Maio de 1977),






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